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quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Leveza - Italo Calvino

CALVINO (1994), Italo. Seis propostas para o próximo milénio. (Lições americanas). Lisboa, ed. Teorema, 2ª. ed. (1ª. ed. itª.:1990, Garzanti Editore, spa), trad. de José Colaço Barreiros, 1 - Leveza: p. 15-44.
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« Nas alturas em que o reino do humano me parece mais condenado ao peso, penso que (...) deveria voar para outro espaço. Não estou a falar de fugas para o sonho ou para o irracional. Quero dizer que tenho de mudar o meu ponto de vista, tenho de observar o mundo a partir de outra óptica, outra lógica, e outros métodos de conhecimento e de análise. » (p. 21).

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« Mas se a literatura não basta para me garantir que não ando só a perseguir sonhos, procuro na ciência alimento para as minhas visões em que se dissolve todo o peso...
Hoje em dia todos os ramos da ciência parecem querer demonstrar-nos que o mundo assenta em entidades delicadíssimas: tal como as mensagens do ADN, os impulsos dos neurónios, os quarks, os neutrinos vagueando pelo espaço desde o princípio dos tempos...
E também a informática. É verdade que o software não poderia exercer os poderes da sua leveza senão por meio do peso do hardware; mas é o software que comanda, que actua sobre o mundo exterior e as máquinas, que só existem em função do software, evoluindo de modo a elaborar programas cada vez mais complexos. A segunda revolução industrial não se apresenta como a primeira com imagens esmagadoras como prensas de laminadoras ou torrentes de aço, mas sim como os bits de um fluxo de informação que corre por circuitos sob a forma de impulsos electrónicos. Continuam a existir máquinas de ferro, mas obedecem aos bits sem peso.» (p. 21-22). (vejam também p. 26).

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« Assim, temos de recordar-nos de que se nos impressiona a ideia do mundo constituído de átomos sem peso é porque temos a experiência do peso das coisas; tal como não poderíamos admirar a leveza da linguagem se não soubéssemos admirar também a linguagem dotada de peso.» (p.29).

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«...duas vocações opostas disputam o campo da literatura através dos séculos: uma tem a tendência para fazer da linguagem um elemento sem peso, que flutua por sobre as coisas como uma nuvem, ou melhor, como uma finíssima poeira, ou melhor ainda como um campo de impulsos magnéticos; a outra tende a comunicar à linguagem o peso, a espessura, a concreção das coisas, dos corpos e das sensações.» (p. 29, subl. n.).

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« A leveza para mim está associada à precisão e à determinação, e não ao vago e abandonado ao acaso.» (p. 30).

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« Creio que é uma constante antropológica este nexo entre a levitação desejada e a privação sofrida. É este dispositivo antropológico que a literatura perpetua.» (p.42).

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